segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Visão de Macho" - Brazil, mostra tua cara!

Essa história pode ser de ficção ou não. Vou contar:

Essa semana, eu encontrei com um conhecido de longa data em um shopping. Conversamos bastante, tomamos um chope, e o mesmo insistiu para conhecer a casa dele e a esposa, já que ele morava ali perto. Ao sair ele me mandou segui-lo com meu carro. Ao que respondi:

- Não tenho carro, não.

Ele olhou espantado, “como não” disse, eu respondi que era complicado pagar prestações, já que estava pagando uma prestação alta do meu apartamento e estava em vias de ser promovido. Aí sim compraria um carro popular. Ele deu uma risada debochada “apartamento? Não consigo morar em um, gosto de ouvir som alto”e continuou:

- Carro popular? Eu conheço um cara que te arruma um B.A. de luxo! E você como é militar só precisa dar carteirada quando for pego em blitz, que tá tranqüilo.

Pra quem não sabe B.A. é um carro de busca e apreensão. O mesmo fica parado em um pátio público. E por um preço módico você pode ficar andando com um até algum agente de trânsito te parar e descobrir a procedência do carro. O que pode levar anos.

Ao chegar à casa do “amigo” ele abriu a porta, entrou na sala acendeu a luz e ligou um ar condicionado potente. Reclamou do calor da rua e turbinou no máximo. Ligou uma TV de LED de 42 polegadas e colocou um DVD de pagode daqueles com letras bem grudentas no volume máximo do home theater. Fiquei meio encucado e perguntei:

- Como é que você agüenta essa conta de luz? O meu ar eu só ligo em calor extremo, e mesmo assim o programo pra desligar na madrugada pra economizar e mesmo assim a conta vem alta.

- Ih cara, aqui tá tudo no gato. A gente só paga taxa mínima. Só otário pra dar dinheiro pra esses safados. O governo me rouba eu roubo dele também. E riu debochadamente.

- E essa TV? Esse home? Deve ter saído caro...

- Nada mano. Conheço um cara, que conhece um cara que tem um rolo num grande distribuidor de eletrodomésticos. Ele tira lá e revende pela metade do preço. Vem conhecer a caxanga – disse já saindo da sala grande e subindo escadas.

Fiquei intrigado com tudo que eu vi. Se não fosse pelo fato da mulher dele ganhar muito bem, não tinha explicação daquele luxo todo.

Perguntei a ele:

- Que casa grande! A prestação deve estar caríssima.

- Prestação? Fala sério! O terreno aqui a gente invadiu, fez a casa e está esperando o uso capião pra pegar a escritura na prefeitura. Tem um advogado que está correndo o processo, e vai dar tudo certo.

Disfarcei um pouco, fiquei mais 15 minutos falando sobre futebol, tempo e mulher. Peguei o celular como se tivesse tocado e fingi que minha esposa estava me chamando. Disfarcei, me despedi, fui pro ponto de ônibus e segui pra minha casa.

A moral dessa pequena história é a seguinte: é muito difícil ser honesto no Brasil. Muito difícil mesmo. Eu moro em um pequeno apartamento, pago uma prestação alta, pago um conta de luz alta, não tenho carro, tenho aparelhos eletrodomésticos mais simples, de marcas mais baratas, e pago valor social pro meu “amigo” ter uma casa melhor que a minha e não pagar, gastar luz indiscriminadamente e não pagar, ter um carro de luxo e não pagar, entre outras coisas.

Não é inveja não! É só a constatação que no Brasil só “malandro” se dá bem.

Um comentário:

  1. Arrasou! Como dizia uma amiga minha, quando a gente ficava ''filosofando'' sobre tanta putaria: "Maldito caráter esse que a gente tem", ou seria bendito?!

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